sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

"Última flor do Lácio inculta e bela"


Para além das questões políticas, partidárias, ideológicas e afins que este texto suscita, acredito que ele reflete exatamente o que tem acontecido com a educação no Brasil em seus aspectos gerais (não apenas no ensino da Língua Portuguesa, que mais me interessa no momento): uma simplificação do debate da valorização da cultura popular, transformado em falsa facilitação de tarefas, ou em outras palavras, em uma falsa adequação às aspirações/condições do aluno/povo.



Ignorância, sabedoria e nhenhenhém

No bate-boca lingüístico-cultural com FHC, Lula confunde simplicidade, que é bom, com ignorância, que não é
José de Souza Martins*

Referência recente ao vacilante português de Lula, por parte do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, teve ácida reação do presidente Luiz Inácio, na costumeira linha de que não é preciso ser um acadêmico e doutor para ser o melhor presidente que o Brasil já teve. Deixando de lado que, segundo a sabedoria popular, elogio em boca própria é vitupério, o que está em jogo nas recíprocas alfinetadas é o fato de que o povo brasileiro é bilíngüe e um abismo ainda separa culturalmente pessoas de distintas origens sociais.

Fernando Henrique Cardoso vem do meio acadêmico e, por isso, do ideal republicano que começou a vingar com a formação de nossas universidades públicas, em particular a Universidade de São Paulo, de qual ele foi aluno e docente, de que a cultura erudita deveria ser desconcentrada e chegar até a massa do povo e da população pobre. A criação da Faculdade de Filosofia teve por objetivo preparar os docentes que levassem para o ensino médio o saber e a visão de mundo que se cultivava e difundia na universidade. E no ensino médio, nas escolas normais, seriam preparados os professores que levariam esse saber para as escolas primárias do campo e da cidade, para os ricos e para os pobres. Na cultura acadêmica criou-se e difundiu-se a concepção do dever de corrigir e ensinar, expressão de uma grande esperança pedagógica na missão emancipadora e libertadora do educador. Justamente por isso, houve tempo em que o professor era visto com admiração, respeito e acatamento. Dois petistas eméritos e destacados, Antonio Candido e Florestan Fernandes, que foram professores de Fernando Henrique Cardoso, tornaram-se, como o próprio Fernando Henrique, verdadeiros apóstolos dessa maravilhosa concepção do ensino e da educação. Talvez não tenham sido suficientemente ouvidos por Lula e outros petistas que tropeçam na dualidade cultural.

Lula fala o dialeto que se desenvolveu no subúrbio operário, especialmente no meio sindical e político, que é uma colagem de vocabulários, uma junção do imaginário do futebol e sua língua, com o vocabulário de uma difusa religiosidade de desobriga e, finalmente, o vocabulário dos dirigentes sindicais, que se sentem obrigados a falar a língua travada, kafkiana e cartorial dos formalismos da lei. Muitos dos operários que subiram na vida, como Lula, vinham do interior e da roça, habituados a falar o belíssimo dialeto caipira ou sertanejo, o português arcaico e literário que, mesclado com sonoridades e palavras da língua nheengatu, que foi nossa língua brasileira até o século 18, então proibida pelo rei de Portugal, tornou-se a língua popular, a língua cotidiana de todos nós.

A fala ágil e prática de Lula, não obstante os atritos gramaticais, que não são superiores em número à média nacional, representa bem comportado progresso. É um milagre que Lula não fale com sotaque italiano, do brasileiro de terceira geração que era diretor da escola primária em que estudei no mesmo subúrbio, e que era o sotaque de muitas crianças aqui nascidas. Nossa fala brasileira não esconde o substrato comum e popular da língua que todos falamos. Fernando Henrique foi injustamente crucificado, em 1997, por muitos petistas que hoje dele reclamam pelas referências ao português de Lula, por ter usado palavra da língua nheengatu e do dialeto caipira ao criticar seus críticos de ocasião, que o questionavam pelo suposto neoliberalismo, e dizer que isso era “nhenhenhém”, isto é, para simplificar, “falação”, falar demais e sem fundamento. “Nhenhenhém”, aliás, que todos usamos na nossa fala cotidiana, composta em boa parte de palavras do vocabulário tupi.

Temos aí um fenômeno histórico e social que não tem merecido atenção nem debate. A ascensão do PT se deu com base em polarizações de uma cultura dualista quase imperceptível, que nos divide como povo: os que são sujeitos da cultura erudita e os que o são da cultura popular. Até aí, nada muito diferente do que ocorreu em outros países, em que houve a valorização da cultura popular em nome da necessidade histórica e política de reconhecer nos pobres e nos trabalhadores uma identidade própria, sólida e antiga. Na Itália, foi a antropologia gramsciana de Ernesto De Martino e seus seguidores que reconheceu nos simples um saber próprio e legítimo. Na Inglaterra, foi a corrente historiográfica que teve no historiador Ralph Samuel uma das referências no estudo de costumes e tradições do povo. Com a diferença de que os trabalhistas ingleses criaram em Oxford o Ruskin College, um college para dar a trabalhadores a oportunidade do estudo num dos melhores centros universitários do mundo.

No Brasil, o racha lingüístico e cultural ganhou força política por essas influências externas, especialmente a de Antônio Gramsci, a partir dos anos 60, no reconhecimento da legitimidade da língua do povo, mas também de sua medicina, de seu direito, de sua agronomia, de sua botânica, de sua zoologia, de sua arquitetura imaginativa (de que as favelas estão cheias de exemplos), de sua literatura oral, de sua arte primitiva, de sua música antiga e, não raro, refinada, na viola de dez cordas. As pastorais sociais da Igreja Católica abrigaram, e trataram com respeito, durante um tempo, a cultura acadêmica voltada para o popular e diferente. Pesquisas foram feitas, estudos realizados. As complicações começaram com as simplificações da militância política e partidária, que levaram ao rompimento com o verdadeiro mundo acadêmico e à desqualificação do saber erudito, o que o MST faz reiteradamente.

O resultado, certamente perigoso, foi a afirmação da tendência de que a ignorância é sábia e o saber erudito é luxo. Lula repetidamente se aventura nessa linha, pensando em si mesmo, em vez de pensar em milhões de crianças e adolescentes que não podem nem devem ser desestimulados em relação à importância vital da escola, da educação e do conhecimento de alto nível para que este país se torne logo o País que queremos.

*José de Souza Martins é professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Preciosidades de la Feria Internacional del Libro de Guadalajara (FIL)


Razones para las que sirve el español...



"Entre otras, sirve para que nos entendamos 400 millones de personas, para insultar con contundencia ('vete al carajo, guey') y para que nos entretengamos con las diferencias al usar a veces varias palabras ('calzones, pantaletas, cucos, bragas y bombachas') cuando nombramos la misma cosa. (...) Para que podamos adoptar con la lengua una segunda patria que vaya 'desde Borges hasta Cantinflas, desde El Cid hasta Betty la Fea', y 'para empuñar con empeño la letra eñe a manera de entrañable enseña de la lengua'". Daniel Samper.


"Una lengua se debe usar como una prenda, pues denota ciertos rasgos de la personalidad de quien la utiliza. (...) La ropa nos delata o nos favorece, igual que las palabras que utilizamos". Alex Grijelmo.


"'Aquí no suben los precios sino hay ajustes en el mercado', 'no hay errores, hay imprecisiones', 'no hay robo de urnas sino incidencias electorales' y el Ejército 'no reprime, contiene' a los alborotadores". Loret de Mola.


"La información nos da los datos básicos pero solamente la narración nos da el misterio de las cosas". Juan Villoro.

(actualidad.terra.es)


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

"Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó"



Governo uruguaio torna obrigatório ensino do português

Montevidéu, 5 nov (Lusa) - A língua portuguesa passará a ser disciplina obrigatória para os estudantes uruguaios do 6º ano a partir de 2008, anunciou o governo do Uruguai.

"Isso é muito importante para os jovens luso-descendentes que vivem no Uruguai, mas também para todos aqueles que queiram aprender a falar a língua portuguesa", afirmou à Lusa o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Antônio Braga, que se encontra em visita oficial ao país até a próxima quarta-feira.

Até agora, o ensino do português como língua estrangeira nas escolas uruguaias tinha um caráter facultativo: os estudantes do ensino médio podiam optar por fazer a disciplina como matéria extracurricular.

As únicas exceções eram as escolas primárias situadas na fronteira com o Brasil, em que o português já era ensinado e onde se fazem estudos de pesquisa sobre os chamados "Dialetos Portugueses do Uruguai", conhecidos na gíria lingüística como o "portuñol".

Segundo a embaixadora de Portugal no Uruguai, Luísa Bastos de Almeida, por razões geográficas e sociológicas, na região fronteiriça existem inúmeras escolas primárias onde está implementado, desde 2003, o ensino bilíngüe em espanhol e português. As aulas são coordenadas por um programa nacional do Departamento de Educação Bilíngüe da Anep (Administração Nacional da Educação Pública), com claros delineamentos metodológicos e com o objetivo de formar cidadãos que dominem os dois idiomas.

Em algumas escolas do Uruguai, "crianças que falam a língua majoritária [espanhol] e aquelas que falam a língua portuguesa encontram-se integradas no mesmo grupo e ambos os idiomas são utilizados como veículo de instrução", afirmou a diplomata portuguesa.

A existência deste programa reconhece oficialmente que o português é a língua materna de muitas crianças que estudam nas escolas de fronteira com o Brasil e para as quais o espanhol funciona como uma língua secundária.

Mesmo no ensino público, os estudantes uruguaios podem freqüentar, de forma extracurricular, cursos de língua portuguesa promovidos pelos Centros de Línguas Estrangeiras espalhados pelas principais cidades do Uruguai.

As instituições privadas de ensino do português como língua estrangeira no Uruguai, reconhecidas por instituições educativas brasileiras, são o Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro e o Club Brasil, ambas com sede em Montevidéu.


segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Resquicios de antiguas creencias...


Papá cuéntame otra vez

Papá cuéntame otra vez ese cuento tan bonito
de gendarmes y fascistas, y estudiantes con flequillo,
y dulce guerrilla urbana en pantalones de campana,
y canciones de los Rolling, y niñas en minifalda.

Papá cuéntame otra vez todo lo que os divertisteis
estropeando la vejez a oxidados dictadores,
y cómo cantaste Al Vent y ocupasteis la Sorbona
en aquel mayo francés en los días de vino y rosas.

Papá cuéntame otra vez esa historia tan bonita
de aquel guerrillero loco que mataron en Bolivia,
y cuyo fusil ya nadie se atrevió a tomar de nuevo,
y como desde aquel día todo parece más feo.

Papá cuéntame otra vez que tras tanta barricada
y tras tanto puño en alto y tanta sangre derramada,
al final de la partida no pudisteis hacer nada,
y bajo los adoquines no había arena de playa.

Fue muy dura la derrota: todo lo que se soñaba
se pudrió en los rincones, se cubrió de telarañas,
y ya nadie canta Al Vent, ya no hay locos ya no hay parias,
pero tiene que llover aún sigue sucia la plaza.

Queda lejos aquel mayo, queda lejos Saint Denis,
que lejos queda Jean Paul Sartre, muy lejos aquel París,
sin embargo a veces pienso que al final todo dio igual:
las ostias siguen cayendo sobre quien habla de más.

Y siguen los mismos muertos podridos de crueldad.
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam.
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam.
Ahora mueren en Bosnia los que morían en Vietnam.

Ismael Serrano


Acompanhe a música, numa versão mais atual...




"O motivo pelo qual 1968 (com seu prolongamento em 1969 e 1970) não foi a revolução, e jamais pareceu que seria ou poderia ser, era que apenas os estudantes, por mais numerosos e mobilizáveis que fossem, não podiam fazê-la sozinhos. (...) Os grupos jovens, ainda não assentados na idade adulta estabelecida, são o locus tradicional da alegria, motim e desordem, como sabiam até mesmo os reitores de universidades medievais, e as paixões revolucionárias são mais comuns aos dezoitos anos que aos 35, como têm dito gerações de pais burgueses na Europa a gerações de filhos e (mais tarde) filhas céticos".
Eric Hobsbawm, Era dos extremos: o breve século XX, 1995.


Ou seja, um dia você faz trinta anos, e vai tentar sossegar o facho numa "sólida e apolítica profissão de classe média". O pior é conseguir conviver com essa crise de existência que bate de vez em quando...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dia do Professor


Usar esta data para falar de todas as mazelas que afligem a educação me deixa deprimida.

Então, a título de curiosidade...


Como surgiu o Dia do Professor

Tudo começou em 1827, mais precisamente no dia 15 de outubro, quando D. Pedro I baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, exigia-se que “todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras”.
Mas, como quase tudo neste país, o decreto, que continha boas idéias em relação à educação, não saiu do papel.
Em 1947 aconteceu a primeira comemoração da data, em São Paulo, quando quatro professores, estafados pelo longo período letivo, resolveram se organizar em um dia de parada, para descanso e planejamento do restante do ano letivo.
Nos anos seguintes, a idéia se espalhou pela cidade e pelo país.
A data foi oficializada nacionalmente como Feriado Escolar por Decreto Federal em 1963:



Senado Federal
Subsecretaria de Informações
decreto nº 52.682, de 14 de outubro de 1963.
Declara feriado escolar o dia do professor.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, usando das atribuições que lhe confere o item I do artigo 87 da Constituição Federal,
Decreta:

Art. 1º O dia 15 de outubro, dedicado ao Professor fica declarado feriado escolar.
Art. 2º O Ministro da Educação e Cultura, através de seus órgãos competentes, promoverá anualmente concursos alusivos à data e à pessoa do professor.
Art. 3º Para comemorar condignamente o dia do professor, aos estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias.
Art. 4º Êste Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 14 de outubro de 1963; 142º da Independência do Brasil; 75º da República.

João Goulart
Paulo de Tarso


quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Nobel de Literatura



A Academia Sueca outorgou o Premio Nobel de Literatura à escritora britânica Doris Lessing, 87 anos, nascida na Pérsia (atual Irã), criada na Rodésia do Sul (atual Zimbábue). Passar grande parte de sua infância no continente africano influenciou os temas controversos abordados pela escritora: divisão entre negros e brancos, conflitos raciais, violência contra crianças, questões feministas, racismo, colonialismo.

Suas obras mais importantes são O Carnê Dourado, A Erva Canta, Debaixo de Minha Pele, As Experiências de Sirius, Shikasta, O Sonho mais Doce, The Summer Before Dark, The Fifth Child, entre outras.






Para saber mais: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2007/10/071011_lessingnobel_is.shtml

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Notícias do mundo de lá...

Com a obra Y todos estábamos vivos (Tusquets, Barcelona, 2006), a escritora Olvido García Valdés é ganhadora do Prêmio Nacional de Poesía de 2007, oferecido anualmente pelo Ministério da Cultura espanhol à melhor obra de poesia publicada no ano anterior na Espanha.



Para saborear um pouquinho...


El trajín de los grajos que se van y vuelven
como si hubieran errado. Nada
mejor que hacer que mirar pájaros,
si no es mirar árboles,
ahora que son ramas de grumos, materia
de luz tierna casi líquida,
vegetal y violenta...

Olvido García Valdés, Y todos estábamos vivos.


Saiba mais em http://www.elmundo.es/elmundo/2007/10/09/cultura/1191925747.html

domingo, 30 de setembro de 2007

Um blog a mais...

Mais do que um blog, quero criar um espaço onde eu possa encontrar tudo que quero dentro do mundo virtual: livros, literatura, línguas, educação, eventos interessantes, cinema, artes em geral. Compartilhem comigo este espaço.
Aceito sugestões.